A Coronavac deu esperança de dias melhores e de um ponto final da pandemia. Com ela, milhões de idosos e profissionais de saúde foram vacinados, enquanto outros imunizantes chegavam ao país. Dados mostram que ela ajudou a salvar muitas vidas, evitando a contaminação ou quadros graves da Covid-19. Mas, ao mesmo tempo, estudos evidenciam uma queda consistente na eficácia para os mais velhos.
Pesquisa do grupo Vebra Covid-19 Brasil mostrou que a taxa de proteção varia de 61,8% na faixa etária dos 70 aos 74 anos, indo para 48,9% entre 75 e 79 anos e chegando a 28% acima dos 80. Conforme avançamos na imunização, é essencial que se discuta uma terceira dose para grupos como idosos e outros mais vulneráveis. Países como Chile e Uruguai já avançam nesse sentido assim como Estados Unidos e Israel, que usam vacinas de mRNA, sabidamente mais eficazes.
Não é um menosprezo à Coronavac, longe disso. É uma medida de segurança enquanto não temos dados mais amplos sobre a eficácia a longo prazo e, também, diante da variante Delta. Estima-se que a carga viral nas contaminações por essa cepa é até mil vezes maior e o período de incubação da doença cai de seis para três dias, favorecendo surtos explosivos.
Esse quadro gera incertezas, por exemplo, nos residenciais geriátricos, que abrigam quantidade significativa de idosos, muitas vezes com comorbidades importantes. Em diversos países, inclusive no Brasil, houve surtos nesses espaços. Em Porto Alegre, temos feito um grande esforço para proteger os residentes e os profissionais de saúde, com protocolos rígidos de segurança. Diante de variantes mais agressivas e uma menor eficácia da vacina mais utilizada nessa população, é essencial que façamos esse debate de forma técnica e honesta.
A Covid-19 é uma doença nova, sobre a qual ainda estamos aprendendo. As vacinas têm se mostrado eficazes para proteger a população onde a Delta disparou, os casos graves acometem mais os não-vacinados e o número de óbitos é menor. Enquanto não tivermos certeza sobre a durabilidade da proteção vacinal, temos de fazer o que está ao nosso alcance para proteger a população. E a terceira dose para idosos e grupos de maior risco é um caminho importante nesse sentido, preservando a saúde de todos e evitando que se percam mais vidas.
Por Marcos Cunha, coordenador do Núcleo de Residenciais Geriátricos – Moderna Idade do SINDIHOSPA
Publicado pelo Jornal do Comércio no dia 24 de agosto de 2021